A necessidade de reconstrução

Série Reflexões sobre o livro de Neemias - Texto 1

Neemias 1

Nascido fora de Israel, na época do Exílio, Neemias não retornou com sua família para Jerusalém quando o cativeiro acabou, pois já estava muito bem estabelecido na administração persa, vivendo na capital do império e servindo como copeiro do rei Artaxerxes, filho do rei Assuero, que havia tomado Ester por sua rainha muitos anos antes – Neemias 1.11c Nesse tempo eu era copeiro do rei. Nessa função, ele lidava diretamente com a segurança do rei, desfrutando da sua confiança, pois o copeiro bebia antes o que seria entregue ao rei, para conferir se não havia veneno. Tinha acesso direto à presença do rei, de tal forma que, no império persa, o copeiro tinha mais influência que o comandante do exército. O mesmo rei Artaxerxes havia permitido a volta de Esdras para reconstruir o templo e a cidade de Jerusalém, mas depois de uma acusação recebida do governador da área, decretou que a obra fosse interrompida até que se publicasse outro decreto – Esdras 4.21 Agora, pois, dai ordem a fim de que aqueles homens parem o trabalho e não se edifique aquela cidade, a não ser com autorização minha. Os opositores da obra fizeram o serviço cessar com violência – Esdras 4.23,24 Depois de lida a cópia da carta do rei Artaxerxes perante Reum, Sinsai, o escrivão, e seus companheiros, foram eles apressadamente a Jerusalém, aos judeus e, de mão armada, os forçaram a parar com a obra. Cessou, pois, a obra da Casa de Deus, a qual estava em Jerusalém.

Porém, a vida de Neemias mudou quando ele recebeu a visita de alguns homens vindos de Judá, trazidos até sua presença por seu irmão. Neemias desejou ter informações sobre a situação da cidade e dos habitantes que haviam ficado na terra, depois da destruição do templo e da cidade, e do cativeiro para o qual o povo havia sido levado – Neemias 1.2,3 veio Hanani, um de meus irmãos, com alguns de Judá; então, lhes perguntei pelos judeus que escaparam e que não foram levados para o exílio e acerca de Jerusalém. Disseram-me: Os restantes, que não foram levados para o exílio e se acham lá na província, estão em grande miséria e desprezo; os muros de Jerusalém estão derribados, e as suas portas, queimadas. As informações eram terríveis, pois Jerusalém estava em ruínas físicas e espirituais. Diante do relato, o coração de Neemias se entristeceu profundamente e despertou nele a necessidade de restauração em meio ao caos, em meio às perdas e em meio aos sofrimentos. O coração de Neemias se conectou ao coração do salmista e dos demais exilados – Salmos 137.1-6 Às margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião. Nos salgueiros que lá havia, pendurávamos as nossas harpas, pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções, e os nossos opressores, que fôssemos alegres, dizendo: Entoai-nos algum dos cânticos de Sião. Como, porém, haveríamos de entoar o canto do Senhor em terra estranha? Se eu de ti me esquecer, ó Jerusalém, que se resseque a minha mão direita. Apegue-se-me a língua ao paladar, se me não lembrar de ti, se não preferir eu Jerusalém à minha maior alegria; Neemias 1.4 Tendo eu ouvido estas palavras, assentei-me, e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus. Por isso, ele colocou em marcha um propósito de oração, renovando o seu relacionamento com Deus e assumindo compromissos espirituais a partir de quatro reconhecimentos:

1.Reconhecendo a grandeza de Deus – Neemias 1.5

E disse: ah! Senhor, Deus dos céus, Deus grande e temível, que guardas a aliança e a misericórdia para com aqueles que te amam e guardam os teus mandamentos! Neemias buscou Aquele que era maior do que ele mesmo e do que o rei a quem ele servia. Ele buscou Aquele que era fiel e misericordioso com aqueles que são fiéis aos Seus mandamentos e O amam. Desta forma, somente Deus poderia restaurar seu santo temor no seu povo e os trazer de volta para si, para que pudessem lhe dar a verdadeira glória e honra que é digno de receber.

2.Reconhecendo os pecados cometidos contra Deus – Neemias 1.6,7

Estejam, pois, atentos os teus ouvidos, e os teus olhos, abertos, para acudires à oração do teu servo, que hoje faço à tua presença, dia e noite, pelos filhos de Israel, teus servos; e faço confissão pelos pecados dos filhos de Israel, os quais temos cometido contra ti; pois eu e a casa de meu pai temos pecado. Temos procedido de todo corruptamente contra ti, não temos guardado os mandamentos, nem os estatutos, nem os juízos que ordenaste a Moisés, teu servo. Ele confessou os pecados da nação de Israel, os pecados da sua família e os seus próprios pecados em não guardar a Palavra de Deus. Neemias desejava que a aliança entre Israel e Deus fosse restaurada, pois reconhecia que a situação presente era resultado da quebra dessa aliança. Qual era a sua motivação? Agradar a Deus e abençoar seu povo, os seus irmãos.

3.Reconhecendo as promessas de restauração feitas por Deus – Neemias 1.8,9

Lembra-te da palavra que ordenaste a Moisés, teu servo, dizendo: Se transgredirdes, eu vos espalharei por entre os povos; mas, se vos converterdes a mim, e guardardes os meus mandamentos, e os cumprirdes, então, ainda que os vossos rejeitados estejam pelas extremidades do céu, de lá os ajuntarei e os trarei para o lugar que tenho escolhido para ali fazer habitar o meu nome. A restauração aconteceria diante do arrependimento sincero do coração e da mudança de atitude por parte do povo.

4.Reconhecendo a soberania de Deus – Neemias 1.10,11

Estes ainda são teus servos e o teu povo que resgataste com teu grande poder e com tua mão poderosa. Ah! Senhor, estejam, pois, atentos os teus ouvidos à oração do teu servo e à dos teus servos que se agradam de temer o teu nome; concede que seja bem-sucedido hoje o teu servo e dá-lhe mercê perante este homem. Deus era soberano sobre o seu povo, sobre os seus servos fiéis e sobre os reis do mundo. Por isso, Neemias depois de considerar o que estava sob o seu controle e aquilo que estava sob o controle de Deus, pediu a providência e a provisão do Senhor. A providência ensina que Deus está conosco, que Deus nos ama, que Deus governa e que Deus provê, de maneira que os acontecimentos gerais e as alegrias e sofrimentos da vida, no dia a dia, fazem parte do propósito de um Deus que se revelou como amor e santidade, como pessoal e infinito, como Criador e Redentor, como sustentador e governador. Neemias cria que somente pelo poder de Deus a cidade poderia sobreviver e ser restaurada.

Neemias restaurou o seu amor pela verdade da Palavra de Deus e pela oração antes de restaurar os muros da cidade de Jerusalém. Primeiro, é preciso acontecer uma restauração interior, depois viria a restauração exterior. A Palavra de Deus foi escrita e deixada para o nosso ensino – Romanos 15.4 Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança. Desta forma, o livro de Neemias nos desafia a retornar à verdade da Palavra de Deus e à prática da oração para que possamos batalhar pela fé que foi entregue aos santos, para que possamos ter esperança verdadeira, para que possamos reconhecer a necessidade de restauração interior e depois exterior em nossas vidas.